terça-feira, 3 de novembro de 2009

Oasis na Revista Marie Claire - 10/09


Projeto Generosidade é o jogo que muda a vida

De um lado, jovens universitários a fim de melhorar o mundo. De outro, moradores de comunidades carentes. Juntos, eles planejam e constroem espaços públicos em uma espécie de gincana

Fernanda Cirenza

Entra quem quer, sem limite de jogadores.

As regras são claras e, melhor, todo mundo sai vencedor. Assim é o Oasis, um jogo virtual que promove o encontro real entre empreendedores sociais e moradores de comunidades carentes. Funciona assim: as pessoas se conhecem na rede e começam a discutir problemas e propor soluções. Depois, montam um plano coletivo, como se fosse uma gincana. Em seguida, partem para a ação, que se traduz na construção do que for necessário — pontes, creches, praças. Mais do que isso, o jogo tem por objetivo fortalecer emocionalmente os envolvidos, mostrando que eles podem mudar a realidade por conta própria.

O Oasis foi criado em 2003 pelo Instituto Elos, uma ONG de Santos formada por arquitetos e urbanistas que atuam na área ambiental e de “empoderamento” comunitário. “A proposta é oferecer condições para que as pessoas percebam que as soluções também dependem delas. Isso é mostrar que elas têm o poder de transformar os espaços e a própria realidade”, afirma Edgard Gouveia Junior, fundador do Elos. Até o final de 2008, o jogo era aplicado apenas pelo instituto. Em janeiro, a organização tornou o Oasis uma ferramenta de domínio público — qualquer pessoa pode utilizá-la. “Se todo mundo tiver a chance de jogar, os resultados vão ser ainda melhores”, diz Edgard.

A estreia desse novo formato aconteceu em março, quando o jogo começou a ser aplicado em 12 comunidades do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, atingidas pelas enchentes do final do ano passado — na catástrofe, mais de 3 mil famílias ficaram desalojadas e dezenas de lugares, sem qualquer infraestrutura. Depois de trocarem informações pela rede, montarem as equipes e estabelecerem as prioridades de cada região, 300 universitários de todo o país se encontraram com os 200 jovens catarinenses para trabalharem juntos. A reunião real entre todos os jogadores aconteceu nos últimos dias de julho.

Mariana Felippe, 21 anos, estudante de Comunicação Social, saiu de Santos para atuar nas comunidades Alto Baú e Braço do Baú, no município de Ilhota. Ajudou na obra de uma ponte de 12 metros sobre um córrego que, sempre que chovia, impedia as pessoas de passarem de um lado para o outro. Ela e os moradores usaram dois troncos de eucalipto, tábuas de madeira, pregos e o esforço de todos na construção. “As pessoas, quando percebem que são capazes de fazer algo desse porte, se mobilizam espontaneamente. Uma traz o tronco, a outra, o prego, e assim vai.” Além da ponte, o grupo fez uma pista de motocross, revitalizou um campo de futebol e limpou a área que antecede a entrada do único posto de saúde de Alto Baú, onde foi criado um jardim de flores. As demais equipes trabalharam em comunidades de Brusque, Blumenau, Itajaí, Itapema e Navegantes.

A experiência em Santa Catarina foi tão positiva que os participantes de fora do Estado decidiram aplicar o Oasis em suas próprias cidades nos dias 17 e 18 deste mês. Estão previstas rodadas em regiões de São Paulo, Campo Grande (Mato Grosso do Sul) e Salvador (Bahia). “Pela internet, conhecemos as necessidades e os sonhos de cada comunidade. Junto com eles, montamos as equipes e começamos a fazer os planos de ação”, diz Mariana. Como todo o trabalho é feito em esquema de mutirão e só com recursos locais — não tem dinheiro envolvido —, os grupos levantam os “talentos” de cada região: pintores, marceneiros, jardineiros, professores.
Os Oasis dos dias 17 e 18 vão ser resumidos e fazem parte da terceira etapa do Oasis Santa Catarina, que ainda tem duas etapas para terminar. A próxima fase será a organização de um seminário internacional para discutir soluções sustentáveis para o enfrentamento das mudanças climáticas no mundo. Edgard e os participantes querem saber, por exemplo, como o Japão enfrenta os terremotos e a África, a falta de água. “Com o seminário, nossa meta é mobilizar os setores da sociedade para fazermos um pacto que contemple todo o Estado de Santa Catarina.” Na última fase, o jogo pretende reunir 2 mil jovens na construção do plano. “Será o momento de fazer as ideias saírem do papel.”

Até agora, o Oasis Santa Catarina ganhou adesões importantes. Uma delas foi a da WGSN (Worth Global Style Network), bureau internacional de estilo que busca tendências de comportamento e moda pelo mundo todo. Andrea Bisker, diretora na América do Sul, diz que foi apresentada ao projeto pelo arquiteto Marcelo Rosenbaum. “O Oasis conecta as pessoas de forma emotiva e inventiva para uma causa útil à sociedade”, diz ela. A contribuição do bureau foi divulgar o jogo na última edição da São Paulo Fashion Week, em junho.

Andrea esteve em Santa Catarina durante segunda etapa e ficou encantada. “O que mais me impressionou foi o engajamento dos jovens. A maioria deles, entre 15 e 20 anos, já participa de movimentos sociais há tempos. Isso reflete o que temos rastreado no mundo todo: como os jovens já estão e se envolverão cada vez mais com causas sociais.” Para ela, essa geração, chamada Y, é social, política, economicamente consciente e está engajada em mudanças. “Isso me emociona profundamente porque, tenho que admitir, o Oasis Santa Catarina foi minha estreia nesse universo tão bacana. Ver esses jovens conectados com esses temas é esperançoso”, diz. Para participar de qualquer um dos jogos, acesse: http://www.oasissantacatarina.ning.com/ ou http://www.oasismundi.ning.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário